#121 José Pacheco - “O que está mal na escola, tal como a conhecemos?"

Conhecido pedagogo e educador, José Pacheco é fundador de alguns dos projetos mais icónicos e controversos da educação mundial como Escola da Ponte e Escola Projeto Âncora. Convidado assíduo de Escolas em todo o mundo, as suas palestras em Ted Talks já foram vistas por mais de meio milhão de pessoas, sendo uma das individualidades mais prestigiadas no mundo da educação. Hoje é Cofundador e Coordenador Pedagógico da Open Learning School, aquela que considera a única escola do Séc. XXI. -> Apoie este projecto e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45graus.parafuso.net/apoiar -> Livro «Política a 45 Graus». _______________ Índice da conversa (usar marcadores HH:MM para avançar no episódio): (03:11) Apresentação do tema e convidado (07:58) Início da conversa: o que esta mal na escola de hoje? (21:20) Porque não devemos usar testes para avaliar conhecimento? (30:43) Como é a experiência concreta de um aluno na escola aberta? Paulo Freire: “'Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo” (43:03) Por que é essencial integrar a família? | Joseph Lancaster (educador) Movimento Escola Montessori (53:47) Porque é tão difícil mudar o modelo de ensino? | João Costa (ministro da educação) | Autonomia das escolas (1:03:44) Não faz sentido dividirmos a educação em ciclos? (1:09:54) “As escolas são cemitérios de talentos” | TED talk “Do schools kill creativity? | Sir Ken Robinson” | MC Soffia (rapper), aluna do Projeto Âncora no Brasil | André Mesquita (guarda-redes) (1:16:11) Qual deve ser o papel da tutela no ensino do século XXI? (1:20:44) A competição entre alunos é algo necessariamente mau? (1:25:51) Andamos a ensinar coisas inúteis? (1:39:39) Qual é o papel do professor em transmitir conhecimento? _______________ A escola é um caso curioso, porque é provavelmente a instituição que menos se alterou nos últimos séculos. A vida em sociedade mudou, a política mudou, os nossos valores alteraram-se, mas a escola é ainda essencialmente aquilo que era há 200 anos. É uma instituição pensada para o mundo da revolução industrial; aliás, está pensada, em muitos aspectos, como uma fábrica.  Estas características foram-na tornando crescentemente inadaptada às sociedades modernas, e esse desfasamento foi ficando cada vez mais claro à medida que a ciência e a experiência no terreno de alguns pedagogos mais dados à experimentação foram mostrando que as crianças não são máquinas, mas sim são seres humanos, com emoções e potencial criativo, e, sobretudo, com características individuais e ritmos de aprendizagem diferentes que a escola tem de ter em consideração.  Foram surgindo, por isso, já desde o início do século passado, um conjunto de movimentos pedagógicos -- diferentes mas que têm em comum o facto de proporem uma mudança na escola; movimentos como a Escola Moderna, o método Montessori, Waldorf, Reggio Emilia e também, mais recentemente, o método desenvolvido pelo convidado deste episódio, José Pacheco, que este começou por implementar na Escola da Ponte no final dos anos 1970s, que depois levou para o Brasil, em projectos como a Escola Projeto Âncora e a Escola Aberta de São Paulo; e que está agora a lançar de novo em Portugal, desta vez na Open Learning School. A Escola da Ponte, em Santo Tirso, tornou-se na altura muito conhecida porque, apesar de estar localizada numa zona geográfica desprivilegiada, e apesar (ou por causa) do método de ensino alternativo que usava, conseguiu levar os seus alunos a bons resultados nos exames a nível nacional.  Mas, perguntam vocês: em que consiste exactamente este método alternativo que José Pacheco propõe?  A pedagogia da escola aberta tem várias diferenças importantes face ao ensino tradicional -- algumas comuns a outras metodologias alternativas, hoje já implementadas em várias escolas (embora ainda um nicho), outras verdadeiramente distintivas e, sobretudo, revolucionárias face à escola que conhecemos. É uma abordagem que, como outras, reconhece a individualidade dos alunos e estimula-os a aprender por si, autonomamente, seguindo a sua curiosidade e necessidades, e em que a família e a comunidade têm um papel activo. Mas vai mais longe. É uma escola em que não há salas de aula, não há horários, não há sequer turmas, os alunos estão todos misturados (não estão divididos por anos, nem sequer por ciclos!). E, mais importante, não há sequer propriamente professores (há tutores), nem há matéria pré-definida a aprender: os alunos decidem o que aprender, com base nas suas necessidades e o tutor não é visto como quem mais sabe, mas sim como quem orienta e guia o jovem para descobrir e assim crescer. Outra característica distintiva -- e controversa -- deste sistema é que não há testes: avalia-se apenas se o aluno conseguiu aprender determinada competência registando provas concretas dessa aprendizagem.  O método que José Pacheco defende implicaria, assim, uma verdadeira revolução no ensino. Durante esta hora e meia de conversa, discutimos vários dos aspectos que a metodologia da escola aberta propõe. Claro que, como dizia o grande cientista Carl Sagan, "alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias”. Por isso, tentei discutir criticamente as propostas do convidado -- sobretudo as mais disruptivas, desde a ausência de testes ao facto de os alunos terem total autonomia sobre o que aprendem. E, no global, há algo que me faz suspeitar que a escola actual, com os aspectos obsoletos que evidentemente tem, talvez não seja assim tão fácil de substituir: é que apesar de modelos alternativos como o do convidado já existirem há mais de 100 anos, a verdade é que estes métodos ainda não conseguiram ser implementados em larga escala. Seja qual for o nosso grau de cepticismo em relação a esta abordagem há, no entanto, duas coisas certas. Primeiro, esta é uma conversa que dá que pensar e nos leva a olhar com outros olhos para a maneira como o ensino funciona. Segundo, como vão ver, José Pacheco é mais do que alguém com ideias interessantes sobre o ensino e a educação -- é um contador de histórias nato e um homem com poesia na ponta da língua.  _______________ Obrigado aos mecenas do podcast: Julie Piccini, Ana Raquel Guimarães Galaró family, José Luís Malaquias, Francisco Hermenegildo, Nuno Costa, Abílio Silva, Salvador Cunha, Bruno Heleno, António llms, Helena Monteiro, BFDC, Pedro Lima Ferreira, Miguel van Uden, João Ribeiro, Nuno e Ana, João Baltazar, Miguel Marques, Corto Lemos, Carlos Martins, Tiago Leite Tomás Costa, Rita Sá Marques, Geoffrey Marcelino, Luis, Maria Pimentel, Rui Amorim, RB, Pedro Frois Costa, Gabriel Sousa, Mário Lourenço, Filipe Bento Caires, Diogo Sampaio Viana, Tiago Taveira, Ricardo Leitão, Pedro B. Ribeiro, João Teixeira, Miguel Bastos, Isabel Moital, Arune Bhuralal, Isabel Oliveira, Ana Teresa Mota, Luís Costa, Francisco Fonseca, João Nelas, Tiago Queiroz, António Padilha, Rita Mateus, Daniel Correia, João Saro João Pereira Amorim, Sérgio Nunes, Telmo Gomes, André Morais, Antonio Loureiro, Beatriz Bagulho, Tiago Stock, Joaquim Manuel Jorge Borges, Gabriel Candal, Joaquim Ribeiro, Fábio Monteiro, João Barbosa, Tiago M Machado, Rita Sousa Pereira, Henrique Pedro, Cloé Leal de Magalhães, Francisco Moura, Rui Antunes7, Joel, Pedro L, João Diamantino, Nuno Lages, João Farinha, Henrique Vieira, André Abrantes, Hélder Moreira, José Losa, João Ferreira, Rui Vilao, Jorge Amorim, João Pereira, Goncalo Murteira Machado Monteiro, Luis Miguel da Silva Barbosa, Bruno Lamas, Carlos Silveira, Maria Francisca Couto, Alexandre Freitas, Afonso Martins, José Proença, Jose Pedroso, Telmo , Francisco Vasconcelos, Duarte , Luis Marques, Joana Margarida Alves Martins, Tiago Parente, Ana Moreira, António Queimadela, David Gil, Daniel Pais, Miguel Jacinto, Luís Santos, Bernardo Pimentel, Gonçalo de Paiva e Pona , Tiago Pedroso, Gonçalo Castro, Inês Inocêncio, Hugo Ramos, Pedro Bravo, António Mendes Silva, paulo matos, Luís Brandão, Tomás Saraiva, Ana Vitória Soares, Mestre88 , Nuno Malvar, Ana Rita Laureano, Manuel Botelho da Silva, Pedro Brito, Wedge, Bruno Amorim Inácio, Manuel Martins, Ana Sousa Amorim, Robertt, Miguel Palhas, Maria Oliveira, Cheila Bhuralal, Filipe Melo, Gil Batista Marinho, Cesar Correia, Salomé Afonso, Diogo Silva, Patrícia Esquível , Inês Patrão, Daniel Almeida, Paulo Ferreira, Macaco Quitado, Pedro Correia, Francisco Santos, Antonio Albuquerque, Renato Mendes, João Barbosa, Margarida Gonçalves, Andrea Grosso, João Pinho , João Crispim, Francisco Aguiar , João Diogo, João Diogo Silva, José Oliveira Pratas, João Moreira, Vasco Lima, Tomás Félix, Pedro Rebelo, Nuno Gonçalves, Pedro , Marta Baptista Coelho, Mariana Barosa, Francisco Arantes, João Raimundo, Mafalda Pratas, Tiago Pires, Luis Quelhas Valente, Vasco Sá Pinto, Jorge Soares, Pedro Miguel Pereira Vieira, Pedro F. Finisterra, Ricardo Santos _______________ Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira _______________ Bio: Conhecido pedagogo e educador, José Pacheco é fundador de alguns dos projetos mais icónicos e controversos da educação mundial como Escola da Ponte e Escola Projeto Âncora. Convidado assíduo de Escolas em todo o mundo, as suas palestras em Ted Talks já foram vistas por mais de meio milhão de pessoas, sendo uma das individualidades mais prestigiadas no mundo da educação. Hoje é Cofundador e Coordenador Pedagógico da Open Learning School, aquela que considera a única escola do Séc. XXI.

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Podcast do ano 2022 (Prémios Podes). O 45 Graus é um podcast para todos, mas não para qualquer um(a); um espaço para saber mais e pensar criticamente. José Maria Pimentel – curioso por natureza e economista por formação – recebe para a conversa especialistas e pensadores de áreas muito diferentes: ciência, sociedade, economia, política, negócios, filosofia e muito mais. O 45 Graus é um projecto independente financiado pelos mecenas. | Leia o livro «Política a 45 Graus» (https://bit.ly/3ufDKXS), uma reflexão sobre as divisões da política contemporânea. | Ouça o «45 Graus Xpress» para episódios